Conversa com Padre Jorge
No final do mês de março, em meio a
tantos afazeres diários, Duarte, Associado e colaborador frequente, escreve
mais uma vez, ao Amigos de Corrêas, desta vez para informar que “Don Giorgio acaba de deixar o Arciprete di Piove
di Sacco e passa a residir na casa da sua família”. Finaliza, o email,
sugerindo pedir uma entrevista a ele para o blog, pois “...foi um dos padres
que deixaram marcas profundas e positivas na Diocese de Petrópolis.”
A boa ideia
se traduziu em cinco ou seis perguntas com a colaboração do Vanzan e do próprio
Duarte, que, enviadas com a solicitação da entrevista, foi aceita de maneira gentil
e prontamente por ele.
A passagem de padre Jorge Facchin
pelo Brasil tem início em 10 de novembro de 1963, quando chegou ao
nosso país “para ajudar”, em apostolado
missionário inspirado pelo espírito ecumênico, um dos primeiros frutos do
Concílio Vaticano II, e aqui permaneceu por mais de vinte anos, como conta na conversa, que
publicamos a seguir.
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Mons. Jorge (ao centro) com antigos alunos e familiares em 2011 |
Em pouco mais de 20 dias, chega-nos
a resposta de padre Jorge, em primeiro lugar, cumprimentando os “amigos da Associação dos Antigos Alunos pelo
precioso trabalho que estão fazendo para a Associação.” E, em seguida,
envia “um abraço a todos os Antigos
Alunos Padres e àqueles que vivem ‘nas periferias’ como insistentemente fala o
papa Francisco.”
No parágrafo seguinte, narra como se
deu o seu afastamento depois de tantos anos de trabalho, esclarecendo que não se
trata de aposentadoria: “No domingo, 23 de fevereiro (2014), deixei o ministério na
paróquia de Piove di Sacco, que alguns Antigos Alunos conhecem, por culpa da
carteira de identidade”, afirma com bom humor, concluindo em seguida, que “de acordo com as indicações da Igreja, aos 75 anos de idade, coloquei
o meu encargo nas mãos do Bispo Diocesano, que, depois de dois anos
e meio, nomeou o substituto.” Assim, vinte e oito anos após ter retornado definitivamente
para Itália, “voltei para família.
Moro onde nasci, com meu irmão mais velho, solteiro e que ainda goza de
boa saúde. Quem cuida de nós é uma senhora viúva de origem brasileira que
vive na Itália há mais de trinta anos.”
“Presto serviço na minha cidade natal:
celebro Missa, atendo
confissões, recebo visitas,
sou disponível para ajudar o trabalho pastoral dos
padres.”
A vida sacerdotal é uma contínua experiência junto ao povo de Deus, e todos os dias são
acumulados novos aprendizados, numa missão nobre, sobrenatural, que não se
cansa de estar com o outro, fazer pelo outro, pensar no outro. Dinâmicas mais do que meros atos humanizados e que ratificam a
frase do vitral da capela do seminário, incrustada na mente dos antigos alunos,
que oferece uma reflexão sobre o sentido misterioso do chamamento para vida
sacerdotal: Venite, ego elegi vos – Vinde, eu vos escolhi.
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Vitral da Capela de N. S. do Amor Divino |
Com disposição e vitalidade, mesmo já tendo alcançado "a melhor idade", o cansaço da vida de setentão parece distante, ao descrever a rotina das suas atividades atuais: "Presto serviço na minha cidade natal: celebro Missa, atendo confissões, recebo visitas, sou disponível para ajudar o trabalho pastoral dos padres vizinhos e tenho mais tempo para rezar, ler e estudar: o padre nunca se aposenta", afirma em definitivo, alinhado ao pensamento de santa Teresa do Menino Jesus: “
Todas as vocações estão contidas no amor! O
amor é um todo, que a tudo vivifica, que perdura por todo o tempo, porque é
eterno.”
“Cheguei com 27 anos de idade
com grande entusiasmo,
com
muita saúde
e energia.”
Saudade do Brasil?
A esta pergunta, padre Jorge responde firme: “Trabalhar no Brasil foi uma experiência muito
importante para minha vida sacerdotal. Eu fiquei no Brasil nos anos mais
bonitos de minha vida. Cheguei com 27 anos de idade com grande entusiasmo, com
muita saúde e energia, em plena celebração do Concílio Vaticano II. Na
Diocese de Petrópolis, havia muita falta de sacerdotes. A maioria dos
padres, naquela época, era estrangeira. Dediquei-me, sobretudo, à pastoral vocacional
e juvenil. Encontrei muita colaboração. As dificuldades e sofrimentos não
faltaram. Ai de mim se tivessem faltado. A Cruz faz parte da vida cristã e
anuncia a ressurreição.”
Ele mantém vivas as lembranças de pessoas e amigos
que deixou por aqui, se referindo a elas com carinho: “Recordo com muita gratidão de dom Manoel Cintra, dom Veloso, muitos
padres e muitíssimos leigos formidáveis, entre eles, também, os que fazem parte
da Associação dos Antigos Alunos do Seminário.”
E continua: “Voltei para Itália definitivamente em
1986, quando, de acordo com o bispo de Pádua, achei que Petrópolis
tivesse clero suficiente para continuar o trabalho pastoral e vocacional:
a Diocese podia continuar o caminho com suas pernas.” Assim, vinte e três anos depois de ter chegado ao
Brasil, em 1963, “para ajudar e não para
substituir”, como deixa claro, ele retorna à terra natal, deixando um
legado inestimável para a Diocese de Petrópolis, após ter exercido o cargo de
reitor no Seminário, durante 17 anos, de 1969 até 1986, e apresentado para a
diocese 22 sacerdotes formados no Seminário.
Quanto ao
momento atual da Igreja, afirma: “A
Igreja, na Itália e no mundo, está vivendo um momento muito importante com a
presença abençoada do papa Francisco, que com muita determinação está
convidando a viver o Evangelho.”
Finaliza se
colocando à disposição: “Quando precisar
de outra colaboração eis-me aqui às ordens. Um abraço. Ciao a todos os amigos. Pe.
Jorge”.