Fonte: ZENIT


Entrevistas

Dom Filippo Santoro: Um bom exemplo de fé, vale mais do que mil palavras
Padre Sinodal, Arcebispo de Taranto, conta sua experiência
 Dom Filippo Santoro, arcebispo de Taranto,
nomeado Padre Sinodal por Bento XVI.
Salvatore Cernuzio 

Falta menos de uma semana para a conclusão da XIII assembléia do Sínodo dos Bispos dedicada a Nova Evangelização para a transmissão da fé. Muitas idéias emergiram da assembléia, sobretudo a de dar vida a uma evangelização que envolva todos os âmbitos e aspectos do ser humano, colhendo os desafios da sociedade de hoje. Sobre isto falou a ZENIT, Dom Filippo Santoro, arcebispo de Taranto, nomeado Padre Sinodal por Bento XVI.

ZENIT: Excelência, o senhor teve diversas experiências como Bispo e missionário no Brasil. Quais são, segundo o senhor, os conselhos aos sacerdotes e ao povo católico para a redescoberta de uma fé sólida e alegre, neste ano dedicado à Fé?
Dom Santoro: Com certeza retornar à Palavra. É um aspecto que não pode ser ignorado, elemento constitutivo e alimento da vida de fé. Receber os sacramentos com mais frequência e doar-se aos outros. As Escrituras Sagradas dizem que: a fé sem obras é vã. E amar os outros, seja o colega de trabalho, a esposa, o amigo em dificuldade, trazendo seu próprio testemunho de fé e de coerência de vida. Um bom exemplo vale mais do que mil palavras.

ZENIT: O Sínodo está agora em fase de conclusão. No entanto, muitos fiéis ainda o vêem como algo distante do cotidiano e dos problemas das pessoas. O senhor poderia explicar por que o Santo Padre escolheu realizar esta grande assembléia e, em função dos trabalhos realizados até agora, o que esta pode trazer à Igreja?
Dom Santoro: O Sínodo é a atuação concreta do caminho de comunhão da Igreja: as alegrias, esperanças, dúvidas e problemas são apresentados nesta assembléia extraordinária que segue um fio condutor. Não é um evento distante porque nós pastores, em nossas realidades de referência estamos tentando difundir a mensagem do Sínodo. A 'sorte' da Igreja é ser católica ou universal. No Sínodo se respira a visão mundial da família de Jesus, não é difícil entender que se trata de uma grande oportunidade, onde os irmãos de todo o mundo escutam a voz uns dos outros através dos pastores, que são os Padres Sinodais.

ZENIT: Bispos de todo o mundo se reuniram para falar sobre a Nova Evangelização, expressão que consiste num conceito amplo. Como é possível conseguir isso? E como, depois do Sínodo, as práticas pastorais poderão mudar?
Dom Santoro: Há uma mensagem que permanece inalterada, embora o céu e a terra passem, as palavras do Evangelho, nunca vão mudar, porque Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre ... . O Evangelho nos ensina sempre que devemos reconhecer os sinais dos tempos, pois o Evangelho deve ser encarnado no mundo em que é anunciado. Não é uma "carta morta", mas palavra viva! A nova evangelização nasce de um olhar mais amplo para o mundo, um olhar do bem, não há mundo que não mereça redenção. A prática pastoral ordinária deve ser sempre repensada a partir disto. Deve ser aceito cada desafio e cada necessidade, como matéria de discernimento, mas sem improvisação. O pensar com o sentimento comum da Igreja universal é garantia de verdade e autenticidade.

ZENIT: O senhor realizou um grande trabalho de reconciliação no conflito entre os que gostariam de fechar o Ilva e os trabalhadores que querem restaurar o sistema, mantendo e melhorando o trabalho. Qual é o seu pensamento sobre o assunto, lembrando o recente decreto do Governo para a remediação de Taranto sobre a poluição industrial?
Dom Santoro: Taranto é uma cidade que me fez sentir acolhido desde o primeiro dia de ministério. Esta recepção calorosa, no entanto, não combina com a tendência de colocar seus próprios interesses acima do bem comum. Todos acreditam que têm a solução no bolso, mas não é assim. Você não pode promover um direito sobre outro porque os danos em ambos os casos, seriam incalculáveis. Meu trabalho tem sido até agora de chamar os partidos para a unidade e o diálogo. A conclusão se deu com uma procissão no bairro Tamburi, o mais afetado pela poluição, com a participação de sindicatos e ambientalistas, trabalhadores e cidadãos comuns. Espero que esta autorização ambiental integrada possa unir as necessidades daqueles que têm medo de perder seus empregos com as de quem, justamente, pedem ar puro e garantias para o próprio futuro e o dos seus filhos.

ZENIT: Algumas semanas atrás, alguns trabalhadores do Ilva (indústria que se ocupa da produção e transformação do aço) protestaram no alto do pórtico do auto-forno 5 e da chaminé E312, a dezenas de metros de altura, arriscando suas vidas. Voltando ao discurso da Nova Evangelização, como é possível levar esperança aos corações destas pessoas que aparentemente a perderam?
Dom Santoro: Não existe receita diferente a não ser a do acolher o outro. Àqueles trabalhadores eu levei o abraço da Igreja e eles foram revitalizados. A fé é nutrida graças à experiência de Deus que fazemos em um encontro real, aquele com o sorriso de um irmão, uma palavra de conforto.

ZENIT: Então, o anúncio do Evangelho pode ser feito também em uma particular situação social?
Bispo Santoro: Claro! È realizado da mesma forma, prestando atenção aos mais necessitados, voltando a educar "para a boa vida do Evangelho", quando por vida não se entende, é claro, apenas a esfera religiosa de cada indivíduo, mas todos os ambientes em que o homem se encontra: da escola ao trabalho, da festa ao lazer, através das várias provações da vida.
(Trad.MEM)