15 de janeiro de 2012

O futebol é a paixão esportiva, que alegra a vida

Foto Nelson Teles
"O futebol ajuda a cada um de nós, colocar para fora as energias negativas acumuladas, seja como jogador - peladeiro - ou como simples torcedor"
O futebol é mesmo uma paixão mundial. Em cada esquina, na praia, na empresa e, também, nos seminários as disputas são sempre acirradas com o objetivo de vencer uma partida de futebol e ser campeão. Ele ajuda, a cada um de nós, colocar para fora as energias negativas acumuladas, seja como jogador - peladeiro - ou como simples torcedor. Você pode perguntar, mas, por que este assunto agora. Cisma. E, como um filme em preto e branco (apenas, por ser passado), passam as imagens das peladas que eram disputadas no Seminário, ao ler um artigo sobre a Clericus Cup. Pois é, em Roma não é diferente. A Itália ama o futebol.  E, também, no Vaticano ele é muito apreciado. Tanto que há um campeonato nacional, acredite se quiser. E é com o espírito esportivo e cristão, que esta competição será realizada, na sua sexta edição, em 2012. Já é tradicional o torneio de futebol, que é realizado, todos os anos, entre as várias universidades pontifícias de Roma, desde 2007. Imagina como ficam animados, os padres e seminaristas vislumbrando uma competição saudável e objetivando levar o caneco para sua universidade. Todos nós, Amigos de Corrêas, nos lembramos das grandes peladas disputadas no campo do seminário e no sítio Oriente. Em amistosos, contra equipes visitantes, raramente o time do seminário perdia. Pois é isto, o futebol faz parte da vida de todos nós. Os campeonatos naquela época, éramos todos jovens e cheios de energia, também aconteciam anualmente e uma equipe de cada faixa etária - grandes, médios e menores – sorria, campeã. O prêmio era um santinho, para cada jogador, com a descrição do ano e do nome da equipe, escrita com a letra impecável do padre ministro. Quem não se lembra das disputas? Na sociedade, de lá para cá, o futebol virou um negócio tão sério e lucrativo, que indistintamente, hoje, homens e mulheres apreciam-no, comparecem aos estádios, assistem os jogos pela televisão, toda quarta e domingo. Uma das últimas pesquisas sobre o tema mostrou que, atualmente, o volume de torcedores, homens e mulheres, está empatado tecnicamente: 51 e 49%, respectivamente. O crescimento de mulheres nos estádios ou participando de torcidas organizadas é um fenômeno.

"O objetivo do campeonato é manter acesa a tradição da competição esportiva na comunidade cristã"

Voltando ao assunto, a Clericus Cup é muito charmosa e quase profissional, bem diferente dos nossos campeonatos de peladas, lá no seminário. Não há comparação. Os atletas são os seminaristas e padres (de diversas congregações), estudantes das universidades pontifícias. Há representantes de mais de 50 países, sendo a maioria da Itália, Brasil, México e Estados Unidos.  O objetivo do campeonato é manter acesa a tradição da competição esportiva na comunidade cristã.  E, por tabela, o fortalecimento da amizade entre seminaristas e padres, de várias nacionalidades de passagem por Roma, é outro objetivo da competição. As regras dos jogos são iguais a qualquer partida de futebol, o tamanho do campo é oficial e os times se apresentam uniformizados. Claro, que o juiz não é desacatado com dedo em riste ou é xingado com palavrões, tal qual em Corrêas, nas nossas peladas diárias. Mas, a disputa é acirrada e recheada de entradas duras dos competidores e, como nas nossas disputas no seminário, há o violento, o beque da roça, o arranca-toco, o pereba, o fominha, o caneleiro e o atacante matador. Bem ao pensamento de Nelson Rodrigues sobre o assunto: “O futebol não vive de iluminações pessoais. Um time tem que ser, como tal, um conjunto harmônico e potente". 

"O evento é organizado para promover o esporte como uma oportunidade para reunir educação, crescimento, comprometimento social, inspirado na visão cristã do homem, educando o ser humano pelo esporte"

O evento é organizado e realizado pelo CIS – Centro Esportivo Italiano -, organização sem fins lucrativos, fundada para promover o esporte como uma oportunidade para reunir educação, crescimento, comprometimento social, inspirado na visão cristã do homem, educando o ser humano pelo esporte. E “tem mídia gratuita”, como se diz no jargão publicitário. Jornais italianos como Corriere della Sera, Corriere dello Sport, Il Giornale e La Repubblica dão cobertura ao evento esportivo, valorizando a iniciativa dos padres. No Brasil, a Tv Globo fez uma boa reportagem sobre o assunto no ano passado. (Veja no youtube, vários vídeos sobre o assunto).

Os brasileiros
Vários padres e seminaristas brasileiros já participaram da Clericus Cup. Entre eles, o zagueiro, Pe. Mario da Silva, o diácono Marialdo da Cruz, goleiro da equipe Gregoriana, Pe. Fábio, meio-campo da Gregoriana e Danilo Magella, goleiro da equipe Angelicum.
                    
A competição
Dezesseis equipes disputam o campeonato, divididas em quatro chaves, cada uma composta por quatro times, classificando-se os dois melhores de cada chave para a fase seguinte. No ano passado, a equipe campeã foi a Universidade Gregoriana que venceu por 3 x 1 a Universidade São Tomás de Aquino. A Redemptoris Mater (Mãe do Redentor) possui 3 títulos conquistados, sendo a equipe mais vitoriosa. O Colégio Brasileiro, nas cinco edições realizadas, nunca foi campeão, classificando-se em terceiro lugar em 2010.

Foto Nelson Teles
Com gritos das torcidas, os jogos fazem a alegria da galera, já que na Itália o futebol é sagrado e levado muito a sério. Os treinadores se esgoelam na beira do gramado como num jogo profissional. Porém, ao final da partida, apertos de mãos entre treinadores e jogadores são comuns. Como diz o antropólogo, Roberto da Matta, “o esporte é importante para modernizar nossa visão de mundo, porque socializa a gente, na derrota e na vitória”. Que isto sirva de exemplo, porque o que mais se vê hoje em dia é a violência no futebol profissional, em todos os cantos do mundo onde o esporte é praticado. Vale a pena registrar que, também em Corrêas, havia a torcida de muitos alunos e alguns mais afoitos, transmitiam a partida como se fossem narradores esportivos de emissoras de rádio com direito a vibrações sonoras, quando a bola ia para o fundo do filó, que não existia. Naqueles tempos, agora longínquos, aprendemos a abolir o “eu” e nos empenhamos a partilhar e transformar em coletivo o objetivo da vitória. Entrávamos no campo de futebol com os ensinamentos cristãos dos nossos formadores e construíamos de forma saudável a nossa comunidade, em um ambiente em que as barreiras sociais, étnicas, raciais eram superadas. Certamente levamos este aprendizado para a vida. Comunidade com muita barreira tira a energia positiva das pessoas. Apesar de haver conflitos, principalmente, com o egoísmo de não passar a bola ou com os apelidos. Havia bullying. Afinal, quando duas ou mais pessoas se reúnem, uma coisa é certa: haverá conflito. Mas sempre houve respeito de uns com os outros e crescimento pessoal com os conflitos. Muitos ex-seminaristas de Corrêas exercem ou exerceram as profissões de médico, professor, comerciante, publicitário, engenheiro, arquiteto, jornalista, comerciário, bancário, político.., mas, não conheço ninguém, que é ou tenha sido jogador de futebol profissional, em qualquer parte do nosso imenso país. Hoje seria impossível, porque o menino joga futebol com vistas a se profissionalizar, desde os 10 ou 11 anos de idade. Mas, na época romântica do futebol isto teria sido possível para os bons de bola. A paixão dos povos pelo futebol, não é a mesma daquela nossa época de seminário, porque ela aumentou muito. Em nosso país então, nem se fala. Aliás, dizem que o futebol não foi introduzido no Brasil por Charles Miller, em 1894, porque há registro, no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, RJ, de que o futebol era jogado por influência dos padres jesuítas, já em 1886. Mas isto, já é outra história. 

2 comentários:

  1. Se não me engano, há um ex-aluno do Seminário (de Santo Aleixo) que jogou profissionalmente no Fluminense. Vamos apurar qualquer dia...
    Patinho

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  2. Se conseguirmos apurar o nome, temos como fazer contato com o colega. Abraço, Nelson

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